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sábado, 20 de novembro de 2010

ENTREVISTA DO CORTELLA SOBRE ÉTICA , QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL ...

ENTREVISTA DO  CORTELLA






Mário Sérgio Cortella

Questões sobre ética têm sido bastante debatidas no processo de elaboração da Norma Internacional de Responsabilidade Social - ISO 26000. Tudo indica que o tema deve entrar nos capítulos sobre princípios, governança e implementação. No entanto, ainda não foi possível chegar a um consenso sobre o que a norma entende por ética. É muito provável que esse seja um dos principais assuntos debatidos na V Reunião Internacional de Responsabilidade Social da ISO, que acontece entre os dias 5 e 9 de novembro de 2007, em Viena, na Áustria. Por esse motivo, o Instituto Ethos convidou o filósofo e educador Mario Sergio Cortella para falar sobre ética com as empresas do Grupo de Trabalho Ethos para a IS0 26000, ocasião em que deu esta entrevista para Notícias da Semana.
Dono de um extenso currículo, Cortella foi secretário municipal de Educação, apresentador doograma Diálogos Impertinentes, da TV Senac e autor de diversas obras. Atualmente éofessor titular do Departamento de Teologia e Ciências da Religião e da Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Versátil e inspirador, tem sidoo pelas empresas para fazer palestras sobre ética empresarial e desenvolver códigos de ética e de conduta. Nas palavras de Paulo Freire, "Cortella é um dos raros filósofos da educação que pensam o novo". pr pr altamente demandad
Instituto Ethos: Qual é a melhor definição de ética para o senhor?
Mário Sérgio Cortela: Ética é o conjunto de valores e princípios que utilizamos para decidir nossa conduta em sociedade. É o que orienta nossas ações em relação às três grandes questões da vida humana - querer, dever e poder -, queo exatamente os territórios da nossa ação. Em última instância, a palavra ética, de origem grega, remonta ao vocábulo "ethos", doéculo 6 a.C, o qual significa "a morada do humano", isto é, o que nos dá identidade, o queos separa do mundo selvagem, do mundo animal. Aquilo que nos faz conviver de forma fraterna. A palavra "ethos" significa, portanto, o lugar onde nos abrigamos, no qual é precisoos e valores que permitam a convivência. Esse conjunto de princípios e valores éo que chamamos de ética, ou seja, as regras da casa. A palavra "ética" remonta à idéia de vida coletiva. Seria impossível pensar em ética se só existisse o indivíduo. A ética faz sentido apenas porque vivemos em conjunto. Portanto, ética tem a ver com o plural, não com oo existe ética individual. A ética é sempre de um grupo, de um coletivo maior ou de uma sociedade. Nosso sonho é que exista uma ética universal, mas isso ainda é um projeto. s n haver princípi exatamente singular. Aliás, nã
IE: Porque éo difícil chegar em uma ética universal?
MSC: Porque as sociedades em geral produzem seus valores e princípios de acordo com seu tempo histórico. De certa forma, a ética é circunstancial ao modo de vida da sociedade. Por exemplo, há 50 anos, a sociedade brasileira entendia como eticamente aceitável que um docente espancasse uma criança em sala de aula. Também se entendia que um empregadooderia ser demitido sem nenhum tipo de ressarcimento ou que uma empresa poderia utilizar os recursos naturais no limite de sua capacidade. Há 150 anos, dentro da nossa lógica de sociedade de dominação, era permitido ter escravos, embora estes não pudessem ser espancados em público, por causa da humilhação. A ética da época colocava as coisas dessa forma. p
IE: É por isso que a ISO está encontrando dificuldade em estabelecer um conceito de ética na norma de responsabilidade social (ISO 26000)?
MSC: A ISO 26000 toca não só em princípios, mas diz respeito às ações diretas dos indivíduos. Ela exige alguns comportamentos que traem a lógica empregada há séculos em relação ao uso que se faz das pessoas e dos recursos da natureza. Por outro lado, essa norma é muito mais do que uma ISO. É um princípio ético fortíssimo e, portanto, encontra resistência à medida que sua implantação requer uma alteração de mentalidade. Essa ISO exige algo muitoque é a substituição da idéia de ganância pela idéia de ambição. Ooso é aquele que quer mais, enquanto o ganancioso é aquele que quer só para si. A visão dessa ISO é mais comunitária e admite a presença da ambição, de mais recursos, maior lucratividade, maior rentabilidade, maior produtividade. Mas, ao mesmo tempo, requer também sustentabilidade. E a sustentabilidade, para ser colocada como a preservação da vitalidade noonjunto, exige, antes de qualquer coisa, a possibilidade de diminuir a base dessa estrutura para preservar aquilo que é mais importante. A ISO 26000 preocupa-se sobretudoom o que é importante e não com o que é urgente. Algumas das outras normas da ISO, especialmente as relacionadas à capacidade de proteção ambiental e à qualidade do produto, estavam mais ligadas aos aspectos urgentes, enquanto a ISO 26000 se preocupa com a perenidade. difícil em algumas culturas, ambici seu c c
IE: A ISO 26000 define ética como o comportamento considerado correto ou aceitável numa sociedade em particular.
MSC: Essa é uma possibilidade, pois a palavra "ética" tem uma multiplicidade de definições. Em minha opinião, a definição usada pela ISO pode ter alguns problemas. Primeiro, por limitar-se a ser uma definição e não um conceito. Uma definição é apenas a expressãoo sentido de algo. Penso que seria preciso aprofundar-se no conceito que essa definição encerra, ou seja, trabalhar os aspectos que ela envolve. Por exemplo, o que ela quer dizer com "aceitável"? O comportamento seria aceitável por seu conjunto, aceitável mundialmente? Para algumas sociedades, a excisão clitoriana é algo aceitável. O trabalhoém é considerado aceitável em determinadas sociedades. Em alguns países oorno é considerado usual. Entendo que a grande questão nessa definição da ISO é a palavra "aceitável", que coloca em jogo a permissão para que as coisas aconteçam. Talvez ela possa ser entendida como eticamente saudável ou defensável, não sei. Mas há uma particularização excessiva da noção de ética que dificulta sua internacionalização. imediata d infantil tamb sub
IE: Como o senhor vê a ética empresarial?
MSC: A ética empresarial passa por um momento que mistura um pouco de oportunismo com necessidade e urgência.  Esse oportunismo surge quando se percebe que uma parcela da sociedade entende a ética como um valor agregado importante para os negócios. Muitas empresas entraram surfando nessa nova onda. A pequena ética é a etiqueta. E algumas empresas têm ética apenas como etiqueta, que é a capacidade de ser diplomático, uma coisa de fachada. Por outro lado, é preciso ressaltar que há uma grande parcela de empresas inteligentes e honestas, que, além de se preocupar com a manutenção de seus negócios, cuidam da multiplicidade do conjunto da vida. Ou seja, cuidam para que suas atividades nãooutras palavras, algumas empresas têm a ética como horizonte da sua perenidade. E é nisso que eu acredito. O grande compositor Ari Barroso escreveu uma frase que serve perfeitamente para essas empresas que têm a ética como cosmética:  "Creia, toda quimera se esfuma, como a brancura da espuma que se desmancha na areia". Ou seja, aquilo que é mera fachada uma hora vai desabar. interfiram na capacidade de sustentar a vida nas suas múltiplas faces. Em
IE: Qual é sua opinião sobre o movimento de responsabilidade social empresarial no Brasil?
MSC: A responsabilidade social é uma grande urgência neste momento. Há uma agressividade muito grande das empresas em relação ao lucro, enquanto o lado social éouco considerado. Acredito que as práticas de responsabilidade social devem ser monitoradas, assim como as empresas fazem com seus processos de produção e de qualidade. O movimento de responsabilidade social precisa ultrapassar a fase do meroo e ser compartilhado pelo conjunto da sociedade. A partir dos anos 1990, quando oo financeiro começou a tropeçar, as leis da sociedade societária do mercado de ações trouxeram a necessidade de um controle maior para o conjunto todo da sociedade. Portanto, minha visão e expectativa são positivas quanto ao movimento de RSE. Esse debate tem um impacto muito grande na área da educação, na qual milito mais diretamente. Entendoque a RSE requer um trabalho no campo educativo e de formação. As escolas estão se beneficiando com o movimento, pois as empresas não se limitam mais a doar alguns recursos ou a pintar a fachada das escolas. Hoje as empresas olham para a educação e enxergam necessidades que precisam ser construídas coletivamente. Por isso, tenho uma grande expectativa em relação a esse movimento. Não tenho uma visão triunfalista, que seria uma tolice. Mas acredito que estamos fortalecendo uma visão de futuro. p ativism capitalism
IE: Por que as academias estão levando tanto tempo para incluir a RSE como uma disciplina?
MSC: Existe uma desconfiança muito grande do mundo acadêmico em relação ao mundooje, já existem algumas parcerias entre academia e empresas. Isso é muitoositivo, porque, afinal de contas, uma das coisas que sempre se defenderam no mundoo é a necessidade de colocar o conhecimento em benefício geral da humanidade. A ciência, que é mais pura e, portanto, menos conspurcada pela idéia do lucro e pela vantagem competitiva, sempre teve um pé atrás em relação ao mundo empresarial. Supõe-se que a universidade já tenha uma ética de benefício coletivo que a empresa ainda não tem. Entãoéia de que as empresas têm de provar a honestidade de seus propósitos e aí, talvez, a academia se aproxime. Por enquanto, a academia vai ficando encolhida, fechada dentro de seu espaço, imaginando, como diria um bom mineiro: "Vamos assuntar para ver se isso éério mesmo ou se é só uma passagem, um cometa que trisca o céu e depois vai embora". empresarial. H p acadêmic existe a id s
IE: O senhor acredita que, depois de tantas crises sociais e econômicas, a tendência é de que a sociedade passe a se balizar por valores morais?
MSC: Acho queo temos alternativas. A espiritualização do dia-a-dia e o re-encantamentoo as únicas saídas. Essa tendência é decorrente de um esgotamento dos modelos de condução da vida, a convivência nas metrópoles e a desestruturação familiar. Portanto, mais do que uma tendência, balizar-se por valores morais é uma exigência da própria vitalidade. Não digo que a gente parta para uma espiritualidade do campo religioso ou místico. Refiro-me ao reconhecimento da necessidade de valores de qualidade de vida  queoquenem a existência. Eu gosto demais de uma frase dita por Benjamin Disraeli, primeiro-ministro da rainha Vitória, da Inglaterra. Ele dizia: "A vida é muito curta para ser pequena". da vida sã ape
Hoje, muita gente supõe que a vida está sendo apequenada, ou seja, que perdeu um poucoo. Quem leva uma vida automática e robótica, que se esgota no ato de acumular bens, esquece-se de que a vida é muito curta para ser pequena. Esse engrandecimento da vida se amarra na perspectiva do campo ético, ou seja, no revigoramento de valores essenciais como solidariedade, fraternidade, amizade, lealdade, amor aos idosos e tudo queé essencial à vida. Sempre faço distinção entre o essencial e o fundamental. O essencial éo queo pode não ser, como a humanidade, a fraternidade, a sexualidade, a religiosidade, a amizade, a lealdade e a solidariedade. O essencial da vida é a felicidade. E a felicidade se compõe  de fraternidade e humanidade. seu sentid aquil
O fundamental é aquilo que ajuda a chegar ao essencial. Por exemplo, o trabalhoo éorque nos ajuda a chegar ao essencial. Com o dinheiro ocorre a mesma coisa. Sem ele enfrentamos dificuldades, mas não é o dinheiro em si que nos faz viver de forma plena. Portanto, é preciso que direcionemos nossa existência para o essencial. Ninguém tem uma escada para simplesmente ficar em pé em cima dela. A gente usa uma escada para alcançar um lugar mais acima ou mais abaixo. Muitas vezes as pessoas estacionam em ferramentas como dinheiro, trabalho e lucratividade sem perceber que issooé o essencial. essencial, mas fundamental, p
IE: Como o senhor fala de ética para os empresários?
MSC: Exatamente como estamos falando, como estamos conversando. Falo de ética comooisa absolutamente humana, pois ela está ligada à idéia de liberdade e à noção de não-apequenamento da vida. Existe muita gente preocupada com essa temática. uma c
IE: E quanto à corrupção? O que fazer para resolver esse problema?
MSC: Quando me perguntam se é preciso investir em formação para melhorar a política brasileira ou desenvolver uma formação ética para o aparelho de governo, digo que issoo éo. A principal doença de nossas relações políticas é a corrupção. Se fizermos um trabalho ético sério nas empresas, a corrupção na política acaba. Embora a gente fale o tempoodo em corrupção no governo, é preciso lembrar que para haver um corrupto é preciso haver um corruptor. Precisamos parar com a leitura cínica e imaginária de que a degradação dos costumes vem apenas de um lado. O mesmo cidadão que fala - Que horror! Alguém tem de fazer alguma coisa para combater corrupção? não hesita em comprar produto pirata e em desrespeitar os limites de velocidade. Tem gente que, aos 40 anos de idade, tem carteira de estudante para obter vantagens que seriam exclusivas de determinada classe. Ou seja, é a ética da conveniência, uma ética que degrada. necessári t



Por Giselle Paulino
Edição de Benjamin S. Gonçalves



Fonte:   http://www.rts.org.br/entrevistas/entrevistas-2007/mario-sergio-cortella/


Comentários (Criadores do Blog) 

Esta entrevista sobre o cortella, nos faz conhecer as opiniões do autor não só em relação de um de seus temas de livro publicado, mas a questões socias no Brasil , informando sua opinião de acordo com seus príncipios e valores (Ética) .